quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

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13 maldades alheias
reticência, s. f. Omissão voluntária de coisa que se devia ou podia dizer; -s: pontos sucessivos que na escrita indicam omissão. re.ti.cên.cia
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O natal já está quase aí. Você já sabe, é claro, pois ele vem anunciando sua presença há pelo menos 2 meses. E colado nele vem o que mais me assusta - o ano novo. Porque de um modo geral se leva o "novo" muito a sério. Como se uma nova vida estivesse começando, com novas oportunidades, tudo zerado. Mas não. No fundo nada muda. É só um calendário novo sobre a mesa. É esperar o próximo carnaval, a próxima páscoa e todo o resto. Repetir todas as estações. Mas você não está sozinho. Você tem um ontem. Você tem o ano passado. Tem uma bagagem de incertezas, de mágoas, de perdas e ganhos, de dias bons e ruins. E infelizmente não dá pra esvaziá-la na virada. O que me consola é a certeza de que pra ter um ano pior vou ter que me esforçar muito.
mas até nós, os pessimistas assumidos, até você que cansou de ler posts de final de ano, até você que acha o natal a droga de um feriado consumista mas não vai recusar uma fatia de Chester, até você que vai passar a virada deitado na cama ouvindo música, até você que fez mil promessas impossíveis pra 2010 e não realizou nada, até você que refez suas promessas impossíveis pra 2011. Até você não vai conseguir evitar a espera. E quando o primeiro dos fogos estourar no céu vai esperar que o novo ano seja melhor que o anterior, vai esperar alcançar tudo o que ainda não conseguiu, vai buscar toda a felicidade que parece recuar quando você tenta apanhá-la.
Mas o que eu quero esse ano é um ano sem reticências. Nada de ficar omitindo fatos, nada de hesitar. Eu quero um ano onde tudo seja dito, que nada fique subentendido. Quero um ano em que tudo fique as claras pra eu saber por onde estou indo. Sabe, nem eu nem ninguém pode ler pensamentos. Caramba, nem o diabo consegue isso. Certas coisas devem ser ditas por mais difíceis que sejam. A gente já tem tantas dúvidas na cabeça, por que não responder as que podem ser respondidas?
E embora meu desejo não tenha a mínima influência nos acontecimentos, espero que TODOS vocês, que gastam tempo lendo meus textos, tenham um natal e ano novo magníficos, extraordinários e sem reticências. Meu único pedido é que não deixem que o ano termine com assuntos inacabados ou conversas pela metade. Se você não é desses que fala sobre sentimentos abertamente, aproveite essa época do ano, assim não vai parecer tão patético dizendo a alguém o quanto ele ou ela é importante pra você. Ou dizer aquela pessoa o quanto você foi magoado esse ano.
E, finalmente, se façam minhas as palavras de Werther quando ele diz, "que 'deus' os abençoe, meus queridos amigos, e conceda a vocês todos os dias felizes que não tem dado a mim!"


"Todo o futuro está na falta de você, tudo é repetição e imundice. pelo menos espero que esteja bem, que a sua festa dure. Seria um crime se não fosse assim."


p.s: Voltamos em algum dia depois do dia 7 de janeiro.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Fique comigo

13 maldades alheias
Não vá embora, por favor. Ainda é tão cedo. E eu gosto tanto de estar com você e das nossas conversas. Gosto quando falamos do último filme que você viu, do livro que estou lendo, de política, de arte, de nossos sonhos e de como nossa realidade está tão longe deles e de como conseguimos rir disso tudo. E eu sei que não vimos os mesmos filmes, nem lemos os mesmos livros, você nem nunca ouviu falar do meu poeta preferido, não temos as mesmas visões políticas, nem admiramos as mesmas pinturas no museu. Mas talvez isso seja uma coisa boa. Se concordássemos em tudo não teríamos sobre o que discutir e ficaria aquele silêncio tedioso.
Olha, não leve a mal o que vou dizer agora. Não é que eu goste de estar com você só porque me ajuda a esquecer. Não é só porque, quando estamos juntos, eu consigo não pensar no que me machuca. Você me faz bem de tantas formas.
Quando você me abraça e eu sinto que vou sumir nos seus braços é como se nada mais pudesse me ferir. E eu fecho os olhos, sem medo, me sentindo protegida. Não sei como você faz isso mas nos seus braços e de olhos fechados não vejo mais os rostos que me assombram, nem as palavras que me abalam, nem escuto as vozes que me destroçam.
Quando você me olha com esses teus olhos tão negros não consigo evitar de corar. E o calor do meu rosto seca a última lágrima que eu deixei escapar.
Só você me faz acreditar no impossível. Me mostra a cada dia que sorrir é mais fácil do que parece. Você toca minha mão e eu me desfaço só pra te ver juntar. Você sorri e me falta o ar.
Quando você me beija meu coração volta a bater, e apressado. Como que para recuperar o tempo perdido. Depois de tanto tempo eu consigo senti-lo vivo, ainda que um pouco frágil.
É por isso que você não pode ir ainda. Não enquanto minhas feridas não pararem de arder, de sangrar e finalmente, não enquanto elas não cicatrizarem. Fique comigo até o sol nascer. E quando ele nascer, fique até que ele se ponha. Porque eu sei que no momento em que você for vai voltar a doer, vai voltar a sangrar, vou esquecer como sorrir e não vou mais poder conter as lágrimas. Você é a minha cura. Eu preciso de você como o dia precisa do sol pra ser o que é. Eu não posso fazer um retrato falado da sua alma mas quero ter a vida toda pra aprender. Eu só preciso que você fique.



"Temos, porém, de nos conformar, como um viajante que deve transpor uma montanha. Sem dúvida, se a montanha não estivesse ali, o caminho seria muito mais cômodo e mais curto; mas, já que está, é preciso vencê-la!..."


Na próxima semana, o ÚLTIMO POST DO ANO. E, é claro, a última citação.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Reminiscências

28 maldades alheias
Numa das minhas frequêntes noites de insônia cheguei a conclusão de que o que dói e o que mata um pouco a cada manhã não é a ausência mas sim as reminiscências. São aquelas sobras, as migalhas sobre a mesa, aquela sombra, aquela marca na poeira que prova que algo existiu, algo esteve ali e ocupou espaço mas agora foi embora. É claro, porque é impossível sentir falta de algo que jamais se teve. O pior de tudo é ter de conviver com lembranças que nunca serão nada além disso. Pensar que certos momentos simplesmente não podem ser reprisados é que da uma vontade de nunca mais pensar em nada. Chega-se a um ponto do desespero que você deseja que aquelas ocasiões jamais tivessem acontecido.
Tento entender isso como aquelas queimaduras de sol depois de uma tarde na praia. Sua pele ainda traz a marca, você se lembra da sensação do calor mas o sol há muito já se foi. Você pensaria no sol se seus ombros não ardessem?
A verdade é que todos esperamos por qualquer coisa que refresque a pele, que apague. Só que algumas marcas são mais difícieis que as outras. Por razões que estou longe de entender algumas lembranças estão mais incrustadas na gente. E eu sei que "incrustadas" é uma palavra horrível mas achei que ficaria bem aqui.
Não sei se só eu vejo a ironia nisso que estou prestes a dizer. Sabe quando você não lembra o nome daquela pessoa que estudou na sua sala por três anos inteiros mas lembra até a posição das estrelas na noite daquele beijo com gosto de chicletes de melancia? Sabe quando você tem um lápso e não consegue lembrar o nome do meio do Pelé mas aquela receita que vocês fizeram juntos você sabe de cor?
E às 2:53 da manhã de hoje, ouvindo Canção Para Um Grande Amor da Isabella Taviani tocando no rádio, eu me perguntava o por quê. Porque algumas coisas eu não consigo esquecer e deixar pra lá? Por que até as sutilezas são lembranças tão vívidas? Por que eu ainda me importo? Por que eu não consigo pensar no passado como passado e suportar o presente tolerável? POR QUE, DIABOS, EU NÃO USEI A DROGA DO BLOQUIADOR SOLAR?



"Você me lembra um poema que não consigo
lembrar uma canção que nunca existiu
e um lugar onde nunca teria ido."
 
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