Olha só, eu sei que você não vai acreditar em mim mas eu vou contar mesmo assim, pode ser? Escuta pelo menos. Aconteceu ontem quando eu estava andando na praia e era perto das três da tarde. Foi bem daquele jeito, sabe? A gente vê nos filmes e nos livros mas acha que é tudo historinha piegas mas eu vi, juro, bem na minha frente e foi real e não venha me dizer que eu passei tempo demais andando no sol. Lá estava eu andando na direção do trapiche, aquele bem depois do morro, onde tem os restaurantes mais bonitos, só que eles estavam meio vazios aquela hora. Aí eu fui até o fim do trapiche e subi naquela plataforma que fica boiando tipo uma balsa e não tinha nenhum barco ancorado. Sentei na beirada e fiquei mexendo os pés tentando não pensar nas vezes que eu vi filmes como Tubarão ou Piranhas assassinas, você entende. E nessa hora uma coisa gelada roçou minha perna. Não, claro que não era um peixe nem tubarão nem nada. Era uma garrafa verde. Com rolha. Juro, não estou inventando isso não. E dentro tinha um papel com umas manchinhas roxas bem pequenas porque talvez a pessoa não tenha lavado a garrafa antes de por o papel. Era uma carta, a propósito. Como eu vou sabe pra quem era? Não, não tinha nome nenhum. Acho que nem era pra ninguém, se tava no mar e não na caixa de correios. Mas o que eu queria te dizer era o que estava escrito. Claro que eu li, o que você acha? Se você encontrasse aquelas palavras ali boiando também não ia ler? Era assim:
“Te vejo andando por caminhos tortos, meu bem. Todos os dias vejo suas pegadas sinuosas e irregulares, te levando a lugares em que não estou. Todas as vezes que você se afasta me sinto morrer um pouco como você nem imagina nem eu diria. Te vejo entre tantos amigos, sempre com esse sorriso de plástico, o gelo tilintando no copo cheio. Cheio de que? De ilusões e mentiras e amores passageiros e superficiais. Te vejo buscando alguma coisa que não sabe o que é em lugares onde certamente não está. Ah meu bem, eu vejo seu rosto quando ele se contrai de dor e logo depois disfarça, numa fração de segundos parece que nada aconteceu. Eu que já te conheço tão bem por não conseguir tirar os olhos de você vejo todas as vezes em que tenta fugir de si mesmo, se perdendo num mundo que não te traz nada de enriquecedor mas que só te entristece. E se você soubesse, amor, se soubesse o quanto me dói te ver assim, indo, mergulhando. Eu vejo o vazio dentro de você, que tenta inutilmente disfarçar. Deixa, vai? Deixa eu cuidar de você. Deixa eu olhar pra você e te ver de verdade. Deixa eu pensar em você. Deixa eu te escutar e mesmo quando você não tiver nada pra dizer deixa eu ficar do seu lado. Deixa eu sonhar com você, com seus abraços seus beijos e sua entrega. Você precisa de alguém cuja vida sinta falta da sua quando você não estiver. Será que só você não vê que eu quero e preciso e desejo você com todos os seus defeitos, inseguranças, medos, erros e mágoas passadas. Você precisa de alguém que não vá te dizer que está sem tempo quando você precisar e meu bem, eu tenho tempo. Todo tempo que eu ainda tenho te pertence. Deixa, amor, que eu te faço viver uma coisa bem bonita sem que”
Não, não tem mais nada. Termina aí. Não sei porque termina aí, não fui eu que escrevi! Você me faz umas perguntas descabidas às vezes, sabia disso? Não faz essa cara não. É claro que eu gosto de você. Eu te mostrei essa carta porque é exatamente isso que eu venho tentando te dizer a tanto tempo. Queria que você voltasse comigo lá na praia pra por a garrafa a água de novo, vamos? Mais perguntas. Não é óbvio? Pra pessoa pra quem essas palavras foram escritas achar! Eu sei que as chances são quase nenhumas mas não custa nada. Talvez ela precise ler e talvez por isso chegue até essa pessoa. Ah, a propósito. E você, você deixa?
“(...)e choro sempre quando os dias terminam porque sei que não nos procuraremos pelas noites, quando meu perigo aumenta e sem me conter te assaltaria feito um vampiro faminto para te sangrar e te deixar mudo, sem nenhuma história a te esconder de mim, enquanto meus dentes penetrando nas veias da tua garganta arrancassem do fundo essa vida que me negas delicadamente, de cada vez que me procuras e me tomas, contudo me enveneno mais quando não vens e ninguém então me sabe parada feito velha num resto de sol de agosto, escurecido pela tua ausência.”
12 maldades alheias:
Oieee
brigada pela visitaaa *-*
Amei muito o seu blog
e principalmente sua postagemmm, muitooo boaa mesmooo...Você escreve incrivelmente bem!
bjoss
http://palavrasclamadas.blogspot.com/
Lud,isso é uma das melhores coisas que tenho lido ultimamente.
Vou colocar o link na minha Caixa pra que mais gente veja.
Abraço.
Lud, realmente um post merecedor de muitos comentários!Sensacional...Com este final então, ficou perfeito!Parabéns!
Bjo
cara que efeito, ouvir esta musica e ler este texto... mexeu comigo demais cada palavra. e se eu pudesse descrever com uma simples palavra diria: intenso.
parabens.
http://terza-rima.blogspot.com/
Nossa parabéns...
Obrigada pela visita lá no blog... volte mais vezes!
Beijos
nandapezzi.blogspot.com
Quem me indicou aqui foi o Caixa de Pandora.
Amei mesmo.
Merece destaque de verdade.
Amei seu comentário *-* volte sempre
e adorei muito seu blog. Parabéns!
to seguindo também
beeijinhos
Segui a pista do Felipe, do Caixa de Pandora, e ele tem razão: o texto é muito bom!
Vou seguir com todo o gosto.
Bj
voce escreve muito bem.
gostei.
parabéns.
-também vi a pista no Caixa de Pandora :)
Há muitas mensagens na garrafa que não encontrarão seus destinatários.
Oi Lud. Caramba se eu achasse essa mensagem antes, ela também serviria p mim, kkkk. Mas, sabe, descobri pela dor que tem pessoas que realmente gostam de viver perdidas sem rumo procurando coisas que nunca vão encontrar pq não sabem enxergar. O ruim é que um dia com certeza irão aprender, mas, será tarde demais. Esse seu post é genial. E a mensagem da garrafa tbm. Amei Umg grande bjo p vc. Posso te chamar de amiga?
Tá me lembrando um filme que assisti alguns anos atrás com o Kevin Costner.
Ou estou enganado?
Ótima sexta feira pra ti!
Postar um comentário