sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Em amarelo

Para ler ao som de “Do teu lado”, de Leoni.

Você tem me feito uma falta absurda esses dias. Ainda maior do que aquela habitual que tenho sentido desde que foi embora. Na maioria das vezes é tão intensa que eu tenho até medo de que ela vá se personificar em qualquer coisa amarela pra me fazer companhia. Não sei, mas acho que se a saudade tivesse cor seria essa, amarelo. É a cor que eu penso quando recordo tudo o que passamos e é a cor dos meus sonhos em que você aparece.

E esse fim de semana em que estivemos juntos não aliviou em nada. Ao contrário, só me fez perceber o quanto me iludia nesses últimos meses, achando que era forte e podia agüentar essa. Cada minuto perto de você era um minuto mais perto da hora que eu teria de dizer adeus novamente. Eu queria tanto matar o relógio, enforcar o tempo e roubar só mais uns instantes do teu lado.

Confesso que naquela parte da estrada em que seguimos caminhos diferentes não pude nem olhar. Não pude te ver indo embora de novo, sem nem saber porque a vida estava me sacaneando desse jeito, tirando o que mais me importa. Você esteve comigo nos momentos mais difíceis e nos mais maravilhosos também. E agora todos os momentos em que não está são só momentos. Vazios ocos incompletos. Trocamos nossos devaneios mais loucos enquanto largávamos do ônibus no fim da tarde e íamos pra casa andando, mesmo sob chuva. Até preferíamos a chuva. Mexia com a gente, de alguma forma que eu ainda não entendi e nem pretendo entender. A gente cantava tão alto! Lembra das criancinhas na janela daquela casa, nos olhando assustadas? E a música, você lembra? “Estranho seria se eu não me apaixonasse por você”.

Tenho tentado controlar essa coisa que vive dentro de mim e que vive dentro de você. Que nos empurra, não nos deixa sentar, que instiga a buscar alguma coisa que não está aqui mas além dessas linhas traçadas nos mapas. Dia após dia eu adio minha ida na vã esperança de que você vai voltar. E aquela música que você cantarolou no meu ouvido em uma das repetidas vezes em que nos abraçamos tem me perseguido como um nazista persegue um judeu. “E eu ainda nem fui embora e já estou com vontade de voltar”.

Quando cheguei em casa, depois da despedida, começou a tocar uma música no rádio. Mais por ironia do que por coincidência. Aquela mesma. Você tem um All Star azul? Eu nunca tive. Mas preto de cano alto já. Foi aí que um arrepio me gelou os ossos ao constatar que por puro egoísmo de sua parte, o pedaço de mim que levou dessa vez foi muito maior. Dói muito mais. Por isso devo pedir que, quando vier, na próxima vez que nos virmos, que seja pra sempre. Não me deixe de novo pois todas as vezes em que me despeço não posso me livrar da sensação de que é definitivo. E quantas vezes mais serão precisas pra que você me destroce por inteira?


"Não sei se devo, também não sei se posso, se é. Permitido? Sei lá, acho que também não sei o que é dever ou poder, mas agora estou sabendo de um jeito muito claro o que é precisar, certo? E quando a gente precisa, não importa que seja proibido. Querer? - Querer a gente inventa".

18 maldades alheias:

Unknown disse...

Tenho que confessar Lud, que você é a personificação do trabalho onírico que Freud descreveu.
Você escreve tão bem que não dá pra distinguir o que é simbólico e o que é original. =]
Queria ter o seu dom para a escrita!

Quero ler os seus livros, hein! =D

Beijos!

Sérgio Cazu disse...

Olá Lud,

Gostei do teu espaço, moça. A cada texto uma bela indicação de música para ouvir enquanto aprecia uma ótima leitura, achei genial. Seus reflexos são ótimos.

Uma linda noite,

Aquele abraço!

Anônimo disse...

A vida seria um erro sem música. Inspira tudo e a todos, assim como você com esse brilhante texto.
Entre erros e acertos, tudo vai se encaixando.
Ótima sexta feira.

Ricardo Miranda disse...

O colega aí de cima explicou bem o que eu sinto lendo seus textos. 'Você escreve tão bem que não dá pra distinguir o que é simbólico e o que é original'.

Um dia ainda te entrevistarei, numa feira de livros em Nova York. Que tal?
Você me dá uma exclusiva? :)
[p.s: li e reli isso e ficou tão duplo sentido, rs. MAS JURO QUE NAO FOI].

Parabéns pela escrita!
Muito orgulho de você! :)

Beeeeeijos.

Faa Cintra disse...

Passei pra retribuir a visita, gostei... Vou ficar tá?

Beatriz F. disse...

Gostei muito do texto...A saudade machuca e isso é inevitável. Pessoas importantes qnd se vão levam um pedaço da gente, mas em compensação nos deixam um pedaço seu também.
bajum florzinha

Beatriz F. disse...

Flor tm um selo pra ti nessa pagina http://palavrasclamadas.blogspot.com/p/selo.html é o último
bjaum

Wanderly Frota disse...

Flor, seus textos são sempre encantadores ! Parabéns mesmo! sou assim, uma pessoa saudosa, extremamente! Foi bom ler suas palavras

beeijinhoos
e volte sempre !

Carla Farinazzi disse...

Puxa, que perfeito Lud!

Texto maravilhoso, a separação é terrível, não? Como diz Chico Buarque, em "Pedaço de Mim"... Metade arrancada de mim. Essa música é linda, combina também com teu texto.

Como a saudade dói.

Beijos

Carla

Blog da Fofa disse...

Oi minha amiga linda. Lindo texto feito de saudade. Triste porque o amor tbm faz sofrer. A música do Leoni é linda tbm. Um a letra perfeita. Um grande bjo

Gisele Braga disse...

É tão estranho perceber
que uma pessoa possa ocupar
um espaço tão grande dentro de nós,
é realmente doloroso ser aquela que mais
ama, que mais sente a falta!
E é sempre tão difícil se desvincular
de um sentimento assim...
E a saudade, essa aí é perversa,
machuca tanto!

Beijos flor!

Tenha uma semana
Abençoada!

Evandro Pezzi disse...

Uau... que bacana....
adorei seu blog ;)
Estou passando para retribuir sua visita!

Já estou seguindo (sem foto) e ficarei muito feliz se vc me seguir tb ;)

Beijos, ótima tarde pra vc!

Anônimo disse...

Ola Lud.
Como sempre tudo aqui é perfeito.
Sabe escrever sobre sentimentos com muita precisão.
Com autoridade,essa é a palavra.
Abraço.

Aмbзr Ѽ disse...

"Por isso devo pedir que, quando vier, na próxima vez que nos virmos, que seja pra sempre. Não me deixe de novo pois todas as vezes em que me despeço não posso me livrar da sensação de que é definitivo. E quantas vezes mais serão precisas pra que você me destroce por inteira?"

eu estou sem palavras. para a fase que eu vivo, nada poderia ser mais doloroso do que estas duvidas. amei seu post. vc falou pelo meu coração.

♥MáH♥ disse...

Adoro o seu lirismo.
Você é toda poesia...e isso é lindo!
=)

Monalisa Marques disse...

A minha saudade é verde. Um verde meio folha desbotada, mas um verde lindo. Ai, ai.

Gostei do teu blog. Descobri através do blog da Alê.

p, beck. disse...

" Por isso devo pedir que, quando vier, na próxima vez que nos virmos, que seja pra sempre. "

essa frase me tocou de forma absurda. posso dizer que, estamos no mesmo barco, se é que me entende.

Leticia Loureiro disse...

eu tô aqui com cara de boba, com uma lagrima teimosa que não quer cair. Esse seu texto me deixou aqui pensando em tanta coisa que eu tenho evitado pensar... Pensa só na minha saudade de alguem que não vai voltar? Alguem que eu vejo todo dia mas que eu sei que não é mais por quem eu me apaixonei... poisé.
Amei!


http://leehtiicia.blogspot.com/

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