quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Refém

7 maldades alheias

A ideia me veio tão rápida quanto o brilho da luz de um relâmpago no céu escuro. E me atingiu tão forte de um jeito que eu não sei se explico bem, mas foi como cair do prédio mais alto no asfalto mais rígido. E sem perceber me vi com um sorriso no rosto e não mais que uma réstia de melancolia no coração. De toda a minha dor restava não mais que um leve incomodo que eu facilmente afastaria com um espanar de mãos. Assim como se faz como as moscas no verão. Toda a minha tristeza foi embora sem mais nem menos, sem aviso prévio, sem nem um bilhete sobre o travesseiro. Por tanto tempo ela fora minha única companhia nas noites de insônia. Só ela secou minhas lágrimas, como mais ninguém faria. Era tudo o que eu conhecia. Tudo o que eu entendia. Agora ela se foi. E me abandonou aqui, com essa ilusão efêmera que alguns chamam por felicidade. Logo eu, que a recebi tão bem e de braços abertos. Eu me perdi por tanto tempo que esqueci como as coisas eram antes. Pode alguém se acomodar ao mais profundo desespero? É tão difícil ter que me reestruturar nessa nova realidade, que de tão profunda lembra um pingo d’água. Eu preferiria ver o mundo eterna e poeticamente em preto e branco. Queria voltar a me sentir tão frágil a ponto de perceber até a mais leve brisa como uma ameaça. Quero de volta a dor que me fez gritar poesias, tropeçar na arte, chorar saudade. A arte não pode nascer da felicidade. Não há nada lírico que se possa tirar daí. Como um parente que vem de longe, a tristeza voltou para o lugar de onde veio sem dar a data de sua volta. E cruelmente deixou marcas de sua presença em todos os cantos da casa. Levou consigo todo o silêncio angustiante, todas as horas intermináveis e deixou essa canção estranha que se repete no rádio. Vai ver até que essa vida é morte – uma moça canta – E a morte é a vida que se quer. Vai ver até...


“Quem da solidão fez seu bem
Vai terminar seu refém
E a vida pára também.”



quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O Sujo ou o Mal Lavado

4 maldades alheias
Há algumas semanas fui até o mercado e me deparei com uma prateleira cheia de Papais Noéis sorridentes e rebolantes. Na mesma semana, no shopping, vi uma loja vendendo guirlandas e árvores e mais alguns enfeites. Eu não sei vocês, mas acho que alguém está um pouco adiantado esse ano. Porque o natal sugere FINAL DE ANO, mas a primavera começou hoje! É setembro ainda! É o mês nove! NO-VE!
Então percebi que o natal e as eleições têm muito em comum nesse quesito. Ambos anunciam sua chegada com meses de antecedência! E por dois ou três segundos pensei em quem votaria...
Mas dois ou três segundos depois isso passou, porque, sejamos sinceros, que diferença faz?
"Ah mas no governo molusco o preço do feijão baixou 2 reais e o salário mínimo subiu!"
Minha nossa! Que coisa maravilhosa! Votarei em quem prometer baixar o preço da farinha, dessa vez!
Não que eu desaprove o atual governo. Mesmo que eu JAMAIS vá me tornar esquerdista, sou uma das pessoas que classifica o mandado do companheiro entre bom e ótimo. Mas o tempo dele acabou, certo? Vamos ter que votar de novo. E numa cambada de gente! E quem é que a gente escolhe no meio de taaaaaaaaaaaaaaaaaaaaanta, mas taaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaanta mer....? No Sujo ou no Mal Lavado? Se não se importam eu prefiro votar no Mal Lavado!

Num dia chuvoso em que minha TV a cabo (abençoado o homem que a inventou!) não funcionou direito, não tive escolha a não ser assistir os CINQUENTA TORTURANTES MINUTOS de propaganda política. E até que foi bom. Eu não costumo rir desse jeito nem assistindo The Big Bang Theory. É tanta palhaçada, tanta contradição!
E tem aquele cara do PV que promete dar carteira de motorista pra jovens de 16 anos. Oi, filho? Você é do PV e quer colocar mais emissores de CO2 nas ruas? É isso? Ou você quer matar mais adolescentes pra não ter que gastar com educação? Porque se eu tivesse tirado carteira aos 16 eu não estaria escrevendo isso!
E aquele outro candidato ao senado que promete ACABAR com o senado. Heeein? Se candidate a deputado então, né? Suicídio eleitoral, será que isso existe?
Mas a parte mais divertidas são so ZÉs. Quanto Zé se candidatanto, já perceberam? Zé da feira, Zé da combi, Zé da farmácia... Fora o "carismático" e cômico personagem colorido que esse ano resolveu entrar nesse mundo.
Seria engraçado se não fosse...DEPRIMENTE!
QUAAAAAAAL ÉEEEE A TUUUUUUUA BRAAAAASIIIIIL! Você não se leva a sério e quer que o Nafta e a União Européia te tratem como adulto? Transforma a escolha DOS GOVERNANTES num espetáculo e quer crescer 7,5% ao ano? E por que taaaaaaaaaaaaanta gente trabalhando no goverto? E por que tanta gente no governo não consegue resolver nem os problemas mais básicos?
Sabem que se um cara se elege governador alguma vez na vida, ele GANHA alguma coisinha depois pra sempre? Tipo uma aposentadoria por 4 ou 8 anos de trabalho, sabe? Aí depois o mesmo cara que não fez ABSOLUTAMENTE NADA em 8 anos se candidata a senador e adivinha? É eleito pra mais 8 anos sem fazer nada e ganhando por mês o que você não ganharia em DOZE meses!
Mas a culpa, é claro, é nossa. Que vivemos numa "democracia" que nos OBRIGA a votar, nos OBRIGA a ter o direito de escolher e não fazemos NADA! Ao contrário, continuamos colocando os mesmo caras lá. É quase como uma hierarquia militar. Ele começa como vereador, o povo o coloca como prefeito, depois governador, depois senador, depois presidente! Vamos tirar a mesma cambada de lá, gente! As cadeiras de Brasília já tem até o formato dos caras! Vamos votar em gente que ainda não conhece os truques de dinehiro na meia e coisa e tal.

A verdade é que ninguém dá a mínima pra política porque os políticos a tornaram tão CHATA com seus discursos intermináveis e cheio de palavras difíceis que metade da população não entende, que você se vê gritando "Pelo amoooooooooooor de deus! Juro que se você calar a boca A-GO-RA eu voto em você. Mas caaaale a boca, por favor!".

Votemos, porque TEMOS que votar. Mas não esperem grandes coisas desse ato. Não espere nada. E não venda seu voto.
(mas por 3 mil eu faço negócio!)








"Tenho uma vontade besta de voltar, às vezes. Mas é uma vontade semelhante à de não ter crescido"


sábado, 18 de setembro de 2010

Meio-cheio uma ova!

3 maldades alheias

As pessoas me dizem para deixar de ser tão pessimista. Para esperar sempre pelo melhor e dizer a mim mesma que vai dar tudo certo. Já tentei e adivinha? Não funciona.

As coisas continuam dando errado. Isso porque o otimismo é só um jeito bonito de dizer que você é do tipo que ignora as coisas quando elas não dão certo. É como quando a gente é criança e leva uma bronca da mãe porque esqueceu o casaco na escola. Você pode até fechar a porta do quarto, tampar os ouvidos e cantarolar uma canção baixinho. Vai evitar os gritos histéricos mas ainda vai estar sem TV por uma semana. Quando as coisas insistem em NUNCA dar certo, não há nada fazer a não ser aceitar.

Esperar é só mais uma forma de tortura. Você consegue esperar um ônibus por 8 minutos, 15, meia hora, 3 horas, três dias. Se estiver no ponto, uma hora ele vai aparecer. Você tem certeza que ele virá. Mas esperar por algo que não é certeza, uma coisa improvável é quase suplicar para sofrer. A esperança vai cozinhar seu coração em fogo brando. No começo vai ser aquele calorzinho gostoso que alguns chamam de fé. Mas depois ele vai secar e se partir em pedaços desiguais, impossíveis de juntar.

Acho que para alguns escolhidos na terra os Senhores do Carma foram bem SACANAS, com todo respeito. Pra todo mundo a vida devia ser uma oportunidade de aprendizado, crescimento através da resolução dos problemas e essas coisas. Mas às vezes os problemas vêm seguidos um do outro e se acumulam e derramam. É aí que você sente que tudo desmorona, como se os sapadores de Paladino estivessem sob seus pés. E você se pergunta quando, QUANDO a nuvem negra cretina vai sair da sua cabeça.

Não adianta.

Algumas pessoas nasceram assim.

Azarados.

Eles planejam um dia inteiro logo na véspera. Tentam fazer as coisas darem certo, mas por causa de uma força sobrenatural muito metida a engraçadinha, TUDO sai exatamente ao contrário do que fora planejado. Não os culpem se eles sempre esperam o pior. É porque o pior tem aparecido com mais frequência.

Deve ter algum segredo pra fazer as coisas se encaixarem. Os otimistas devem ter descoberto e mantido só pra eles. Eu nunca entendi como alguém consegue, depois de um TOMBO DAQUELES, levantar e falar: “ah, não foi nada! Amanhã já vou me sentir melhor.”

Qual é! Sejam de verdade um pouco! Xinguem, mandem tudo pro inferno, sofram! As coisas não melhoram só porque você quer. Que mal pode ter algumas lágrimas, uns dias no escuro? Não se agarre a uma réstia de esperança. Só um oi, só uma mensagem, só um email, só uma garoa pode ser SÓ isso mesmo, e não um temporal, um dilúvio.

Meu copo é meio-vazio e ponto!

Por isso comece o dia esperando que ele seja o pior possível. Então, quando ele for normal, ele terá sido bom. Quando for bom, terá sido extraordinário. E se ele for exatamente como você esperava, pelo menos vai ter se preparado pra isso.




"Maybe I should forget the way you call me." - by Marcelo

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

60 dias

2 maldades alheias
As folhas de calendário pelo chão
me dizem que o tempo está passando
As horas correm com pressa
pra chegar em lugar nenhum
A poeira sobre meus livros
fica cada dia mais alta
E a programação na televisão
começou a se repetir
Mas eu estou parada
sem sentir o mundo girar
Porque todo dia
parece igual ao anterior
sentada, no silêncio
fugindo de lembranças
que me perseguem pela sala
Esperando
Existiu um ontem?
Existirão muitos amanhãs?
Eu não sei
Não quero pensar nisso
Não quero pensar
Na solidão de quatro paredes
esqueço o som das palavras
por falta de ter pra quem dizer
Tento não pensar
em quanto tempo eu preciso
pra conseguir me levantar
Eu vejo a luz mudar
por tras das cortinas fechadas
Eu vejo as pessoas por uma fresta
seguindo seus caminhos
cumprimentando estranhos na calçada
Eu vejo você
numa sombra na parede
sorrindo
E o som do relógio
nunca pareceu tão alto

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Cinco Pessoas

4 maldades alheias
A próxima encarnação, o juízo final, o umbrático, o inferno, o purgatório, o céu, o submundo de Hades ou a simples inexistência de vida. Não importa em que você acredita, todo mundo quer esperar alguma coisa depois dessa vida. De preferência alguma coisa melhor que essa.
A gente lê e ouve falar de mil crenças diferentes, de pessoas que esperam encontrar mil coisas depois da morte. Mas a melhor, pra mim, está no livro "As cinco pessoas que você encontra no céu". Anjinhos tocando arpa em nuvenzinhas? Não, não. RESPOSTAS. É isso que todo mundo, no fundo, espera da vida após a morte. E é isso que Eddie encontra na história do livro.
Ele viu todas as pessoas que ele conhecia morrerem antes dele, até que um acidente de trabalho acaba levando ele também. Ao chegar no céu ele descobre que cinco pessoas o esperam para dar algumas explicações.
Pessoas que você conheceu, outras talvez não. Mas todas cruzaram o seu caminho antes de morrer. E o transformaram por completo.
Realmente seria ótimo se isso fosse verdade. Quer dizer, sabe aquelas coisas que acontecem e você se pergunta por que, por que por que? Seria ótimo ter a resposta pra elas.
As cinco pessoas de Eddie também dizem coisas pra ele que todo mundo sabe, mas que a ninguém pensa sobre isso. Como por exemplo que estamos todos ligados, você não pode ficar sozinho porque quer estar sozinho. O único tempo que desperdiçamos é aquele em que achamos que estamos sozinhos. Nada acontece por acaso, não existe isso. Não se pode separar uma vida da outra, assim como não se separa a brisa do vento.
Uma das melhores frases é Você chama de estranhos as pessoas que ainda vai conhecer. Acho que se de fato ouvessem cinco pessoas que você encontraria do céu, você não saberia quem elas são.
Mesmo assim eu fiz uma lista de cinco pessoas que cruzaram minha vida, que de algum modo mudaram alguma coisa em mim.

1ª pessoa - O garoto da pré-escola: Desculpe, não lembro o nome dele. Mas me lembro do rosto, do cabelo branco de tão loiro, os olhos muito azuis. Nós tínhamos 6 anos na época e todos os dias eu o esperava ou ele me esperava na frente do portão da escola. Talvez ele tenha sido uma espécie de "primeiro amor" ou sei lá. Ele guardava meu lugar na frente! Se isso não é amor eu não sei o que é. Então quando o portão abria nós apostávamos corrida até a sala. Eu esperava o caminho inteiro até a escola por essas duas curvas para a direita. É claro que ele sempre ganhava, mas ainda assim era emocionante.
2ª pessoa - Tia D.: Ela foi agregada da minha família por um tempo. Quando meu avô morreu eu fiquei na casa dela enquanto todo mundo resolvia as coisas. Ela tinha um armário cheio de livros e me emprestou alguns pra eu me distrair. No dia em que eu fui embora ela me deu um deles. Era "Aventura na Ilha do Meio", da série Vaga-lume. Era um domingo de manhã e ela me pediu pra que ligasse pra ela quando terminasse de ler. No domingo a noite eu telefonei.
3ª pessoa - K.: Eu tinha uns 11 anos e estava num acampamento da igreja, numa colônia W. Não me lembro direito dos detalhes, mas parece que alguns habitantes não estavam felizes com a gente lá e começaram a circular o lugar de carro, dando derrapadas e essas coisas. Aí mandaram todas as crianças pros alojamentos. O alojamento era algum tipo de internato desativado, tinha alguns móveis velhos, um piano antigo, uns quadros sinistros e dava MUITO medo. Então essa menina, a K., que era alguns anos mais velha que eu e minhas amigas deixou que experimentássemos suas sandálias salto 15. Quando as luzes apagaram no toque de recolher ela contou a história de Joana D'arc.
4ª pessoa - meu avô: Por algum motivo ele me odiava. Pelo menos é no que eu acreditava. Nós sempre brigávamos, nunca conversávamos nem mesmo nos encarávamos por muito tempo. Ele era palmeirense e eu corria pela casa com uma camisa do corinthians pelos joelhos. Ele sempre dava o troco dos cigarros pro filho do vizinho. Mas quando ele ficou doente, por algum motivo, ele quis me ver. Ele nem falava mais. Acho que eu o encontraria não para explicar minha vida, mas pra me dizer o que não pôde.
5ª pessoa: Só tinha um nome que eu pensava em por aqui. Mas aí eu pensei em todas as pessoas que eu ainda vou conhecer, todas as pessoas que eu esqueci e não deveria ter esquecido. E percebi que cinco pessoas é muito pouco. E algumas das explicações que você quer ou pode dar não precisam esperar até a próxima vida, ou até o juízo final, ou até o encontro com os senhores do carma. As vezes as respostas estão na nossa cara, mas a gente só vê o que quer.
Seria ótimo saber que um dia teremos as respostas, mas seria ainda melhor tê-las aqui mesmo, sabe, respirando, vivendo, essas coisas. Fora a pessoa que não dá pra encontrar, de algum jeito seria bom encontrar as outras quatro pessoas. Afinal eles não são estranhos.
É um bom dia pra pensar em Cinco Pessoas que você encontraria no céu. Ou Cinco Pessoas que você gostaria de reencontrar na terra, como preferir.




"Amor perdido ainda é amor. Ele assume uma outra forma, só isso. Você não pode vê-lo sorrir, não pode lhe trazer o jantar, não lhe faz cafuné nem rodopia com ele pelo salão. Mas quando esses prazeres enfraquecem, um outro toma o seu lugar. A lembrança. A lembrança se torna sua parceira. Você a alimenta. Você a segura, Você dança com ela. A vida tem de acabar. O amor, não."
-Cinco Pessoas Que Você Encontra no Céu


 
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